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PREÇO X VALOR

 

    Outro dia ouvi de um amigo o seguinte diálogo:

    - Um cliente me perguntou quanto era o meu serviço. Eu informei o preço X e ele disse:

    - Então X é o seu valor?

    - Não. X é o preço do meu serviço. O meu valor não tem preço.

    Achei a observação genial, pois as pessoas hoje confundem as duas coisas e acabam por valorizar a mercadoria e “precificar” as pessoas e as relações de acordo com o interesse.
    O preço eu posso conhecer com facilidade e saber se posso arcar. O valor daquilo que eu não conheço vai dar muito trabalho para eu me envolver e passar a conhecer. E pode ser que eu nem fique à vontade com aquilo que vou conhecer. Esse é o pensamento comum.

    O preço é alcançado após uma análise fria do produto, dos gastos, do mercado, da concorrência, da utilidade, da oferta e da procura. O valor só se alcança após a experiência no calor da vida, na troca de amor e de carinho dedicado ao outro, na cooperação e solidariedade, no caminhar junto e valorizar os demais. Alcançamos o valor num jogo contraditório onde ganhamos mais no momento em que nos doamos mais. 

    Eu percebo isso na rua, no transporte, nas empresas etc. Faço sempre uma experiência na tentativa de contato. Olho para as pessoas na rua, no ônibus, no Metrô, tento perceber a maneira como elas andam, como falam ao celular, como respiram, como comem, como se relacionam e percebo que a grande maioria evita o contato. Faço muito essa experiência dentro do Metrô. Se alguém fica bem próximo de mim, procuro entrar em contato, com o olhar, com um sorriso, com um bom dia, não importa, o importante é que tento passar uma atmosfera de paz, de harmonia e amizade. 

     Sabe o que acontece?

    Na maioria das vezes a pessoa vira de costas, sai de perto, começa a pigarrear, tossir, mexer no celular, fingir que está vendo se a próxima estação é a sua e por aí vai.

    As pessoas têm medo daquilo que é mais natural no ser humano, o CONTATO, o relacionar-se. Estamos perdendo essa experiência natural e agradável. Quem foge do contato não está querendo se esconder somente do outro, mas também de si mesmo.

    Já tive conversas muito agradáveis nas vezes em que fui ao cinema sozinho e estive aberto a conhecer as pessoas que também aguardavam o filme começar. Já conversei tanto em filas de atendimento que acabei nem percebendo o tempo passar.

    Já me surpreendi com a sabedoria de pessoas que retribuíram minha tentativa de contato e que se mostraram dispostas a aceitar a maneira natural de viver.

     É claro que não podemos ser ingênuos de achar que podemos confiar em qualquer um que apareça na rua se mostrando bom amigo, mas nossa intuição acaba fazendo uma leitura da pessoa antes que a nossa mente possa processar a informação e criar barreiras.

     Enfim..., que valores estamos procurando hoje?

     Estamos enxergando valor onde ele realmente existe ou estamos valorizando o supérfluo?

     O escritor Oscar Wilde escreveu:

     "Vivemos em uma época onde sabemos o preço de tudo e o valor de nada.”

    Wilhelm Reich dizia que “o homem médio (homem comum) fala o superficial e cala o essencial”. Esse parece ser o cerne da questão.

     Porque passamos a viver na superfície e a fugir da profundidade?

     Talvez o preço que pagamos pelo consumo insensato seja o afastamento do valor de sentir nossas próprias emoções, sentir a vida em nossos corpos.

      Evitar o outro pode ser uma maneira de evitar aquilo que não quero enxergar em mim.

    Para encerrar e deixar clara a diferença entre preço e valor podemos dizer que o preço é algo que é subtraído de você quando você faz uma compra, mas o seu valor ninguém pode retirar de você. 
     Para refletir, deixo um vídeo breve e interessante do palestrante Daniel Godri.

 

Abraços

 

Alexandre Salvador

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta Corporal

CRP-05/46554

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